O “ CONTEXTO” DE UM TEXTO – A identificação das circunstâncias em que cada parte do texto bíblico que estamos lendo – nasceu – deve levar em conta o que o povo estava vivendo na época, as perguntas às quais o texto quer responder, o ponto de vista de quem escreveu, os interesses que estavam em jogo e, se possível outros dados. . Isso vai ajudar-nos a estabelecer o contexto. Devemos contar com a ajuda da história, e das ciências paralelas, como a Geografia, a história ,a sociologia, a antropologia, a psicologia, forças auxiliares que podem nos ajudar nesse particular.

Fazendo isso vamos ter em mãos um texto mais real, mais compreensível, mais próximo da verdade histórica – (contexto). O estudo de outros textos da mesma época do povo de Deus e de povos vizinhos, pode nos ajudar também, como de fato tem acontecido, os hábitos de redação, fazendo ver o que era original, o que se enquadrava na repetição de modelos então vigentes, e os acréscimos que vem de outras fontes. Também são muito úteis os métodos de leitura que partem de situações específicas da vida, aproximando-se do texto com uma profunda sensibilidade em relação a problemas humanos de hoje. Um exemplo disso é o que tem ocorrido na América Latina, onde tornou a leitura feita na ótica (na visão ) dos pobres, dos assalariados e dos que quase não tem como se alimentar. Esse tipo de iniciativa de leitura, permite-nos ter uma idéia bem próxima e sentir e entender o clima profético da justiça diante do mundo. Outro tipo de leitura, ligado à prática da justiça e à superação de preconceitos, é a chamada leitura na ótica da mulher. Ela procura os sinais da presença e o significado das ausências, no que se refere à valorização da mulher no texto. Não só os pobres e as mulheres podem ter ângulos diferentes para abordar o texto bíblico. Cada pessoa lê a partir de seus interesses, experiências, daquilo que fala mais à sua sensibilidade Essa variedade de enfoques indica-nos também um cuidado: não se pode transformar um ponto de vista no único que vale, de forma absoluta. É preciso que a mensagem bíblica fale ao homem e à mulher de modo familiar, com a linguagem da cultura da cada grupo e/ou pessoa. Assim processo de inculturação tem duas faces, como acontece com as tarefas de tradução: uma face é entender na medida do possível a cultura de origem, para poder perceber melhor em que consiste o cerne da mensagem; outra face é identificar o que seria equivalente em nossa cultura. Por exemplo: o Levítico proíbe ingerir sangue; é um sinal concreto, uma lembrança do quanto a vida (representada no sangue) deve ser respeitada. Cabe perguntar: para sermos fiéis ao espírito dessa lei (respeitar a vida), que atitudes deveríamos proibir ou aprovar hoje? Nenhum estudo pode começar sem isso nem virá a substituir o texto em fase alguma da formação cristã. O primeiro mestre que explica a Bíblia é a própria Bíblia.Para corresponder à natureza das Escrituras, o leitor se aproximará do texto com dócil abertura á ação do Espírito Santo.Para escutar melhor, temos que nos aproximar do texto abertos à novidade da Palavra, para deixar o texto falar. Idéias preconcebidas e estereótipos podem atrapalhar muito. Nesse processo, é claro, siga-se a orientação da Igreja, já que a Palavra de Deus nos é dirigida como alimento para a fé vivida em comunidade. A comunidade de fé faz parte da leitura. Mesmo sozinhos, no silêncio de uma meditação pessoal, lemos a Bíblia em comunhão com a nossa Igreja.

O texto sagrado nasceu em experiência comunitária: foi esse o processo que o próprio Deus escolheu para se comunicar. A liturgia é um lugar importante da educação da fé pela escuta reverente da palavra. Sua cuidadosa preparação é de fundamental importância. Outro cuidado importante seria a valorização da proclamação da Palavra nos vários tipos de celebração. O Lecionário, não os folhetos de Missa, deveria ser usado na leitura. A mesma pessoa que atua na Liturgia poderia ser preparada para animar círculos bíblicos. È fácil perceber que a Bíblia, feita para iluminar a vida e construir um mundo melhor, pode ser lida também de modo a produzir resultados preocupantes. Com a Bíblia na mão já foram alimentadas grandes vidas generosas a serviço do próximo e da humanidade, as também já foram justificadas violências, omissões e preconceitos. Um tipo de leitura que costuma levar a resultados indesejáveis é a chamada leitura fundamentalista:

· Recusa a levar em consideração o caráter histórico da revelação bíblica e a admitir as limitações da linguagem dos autores humanos do texto;

· Insistência indevida na inerrância (impossibilidade de conter qualquer erro) nos detalhes dos textos bíblicos;

· Tendência a interpretar como histórico o que não tinha intenção de o ser;

· consideração da possibilidade de um sentido simbólico ou figurativo;

· Estreiteza de visão;

· Uma cosmologia já ultrapassada; abordagem não-crítica de certos textos, usados para alimentar preconceitos;

· Desconsideração do desenvolvimento da tradição.

È comum que pessoas consultem a Bíblia ao acaso, (um tipo de roleta russa), especialmente quando se acham inquietas com algum problema, esperando que Deus lhes faça bater os olhos na exata frase que serviria de ajuda na situação que estão vivenciando no momento.

Há riscos sérios nesse modo de consultar a Bíblia. Alimenta-se uma mentalidade mágica e a frase lida, fora do contexto, pode ser mal interpretada. Por outro lado, o povo mais pobre, sem muita experiência escolar, merece um material e uma iniciação à Bíblia de boa qualidade. O conteúdo da formação popular geralmente precisa ser simples, fácil e acessível; isso não deve impedir que seja, ao mesmo tempo, atualizado. È possível ser profundo sem ser complicado.

A leitura bíblica deve permear as ações pastorais no seu todo, mas ainda assim precisa de um trabalho específico que vai dar mais qualidade à presença difusa da Bíblia em tudo o que se faz na Igreja. Pensamos em dois blocos de indicações: política de animação bíblica e atividades.O que entendemos por política de animação bíblica. Usamos aqui a palavra política no sentido de linha de ação guiada por princípios explícitos.Essa política exerce-se em vários níveis: nacional, regional, diocesano, paroquial, comunitário. Se contamos com leigos e leigas em tantas tarefas generosas, é mais do que justo planejar com igual generosidade as oportunidades e os recursos para a sua formação. Esses recursos envolvem cursos apropriados, diversificados e oferecidos em horário e periodicidade convenientes, levando em conta o estilo de vida dos leigos.Não há nada mais importante na pastoral do que investir, de forma variada, em nosso recurso mais precioso: as pessoas.É importante que as homilias, tanto dos presbíteros como dos ministros leigos da Palavra, não reforcem tendências já superadas, também no que se refere à interpretação da Bíblia.

O conhecimento da influência do contexto no conteúdo da Bíblia é importante para as homilias, para a coordenação de cursos para a comunidade, para ter bons critérios de seleção de material a ser recomendado ao povo. A Bíblia está presente em todos os trabalhos da Igreja. Com a Bíblia, bem usada, se cresce muito na espiritualidade, em todos os sentidos. A oração centrada na Bíblia é a grande valorização do nosso texto sagrado. Há muito vem-se difundindo, com regras simplificadas, a prática do antigo método de leitura orante que já era utilizado por muitas congregações religiosas e tem um lugar especial na Tradição da Igreja. Cresce no meio do povo o desejo de utilizar as orientações formuladas para a Liturgia das Horas. Pequenos grupos criam laços mais fortes e podem fazer um trabalho muito interessante.

Às vezes, ao iniciar um grupo no estudo mais aprofundado da Bíblia, as pessoas se dão conta de que se habituaram a fazer leituras inadequadas do texto sagrado. Mesmo antes de avançarem no estudo, querem evitar que isso continue acontecendo. Se a leitura não torna a pessoa mais humana, mais fraterna, mais capaz de construir um mundo melhor, há algo errado com o seu modo de ler. Os profetas insistem, e Jesus retoma bem a idéia deles: a misericórdia, a justiça, a solidariedade são se completam e se influenciam mutuamente.

Ambas devem nos fortalecer na prática da caridade e da justiça, ajudando a descobrir a vontade de Deus nos apelos da realidade de hoje. A liturgia se beneficia muito com um aprofundamento da leitura bíblica: o povo sentirá mais fortemente o apelo dos textos e o clima das próprias celebrações se estiver mais intimamente ligado ao universo daquilo que está frente a seus olhos.

Autor: Mario Eugenio Nogueira

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